segunda-feira, maio 27, 2013

As epifanias de Chris Anderson

O empreendedor e especialista em tecnologia fala sobre drones, vigilância e o que está por vir

Autor: Benjamin Pauker

Chris Anderson durante palestra em San Diego, 
na Califórnia (James Duncan Davidson/Wikimedia)

Chris Anderson já foi chamado de diversas coisas: visionário, pioneiro da economia na internet e evangelizador do ideal Do it Yourself 2.0 (Faça você mesmo). Contudo, não seria imprudente compará-lo a um cata-vento: ou seja, ele não pode controlar as correntes de ar, mas certamente é o primeiro a indicar qual a direção do vento. Físico, com especialização em mecânica quântica, foi Anderson que trouxe as curiosidades científicas para dentro da revista Wired. Durante seus 12 anos como editor, a publicação fez ciência e tecnologia parecer algo legal para os leitores. Nesse período, escreveu a trilogia das grandes ideias do Vale do Silício, na Califórnia, apresentando teorias como a “Calda Longa”, ou a venda online de qualquer coisa, e o conceito de gratuidade como um bom negócio. Seu último manifesto é “Makers: The New Industrial Revolution”, algo como “Fabricantes: a Nova Revolução Industrial”, onde ele conta estar investindo o seu dinheiro na 3D Robotics, uma empresa faça-você-mesmo que fabrica drones e enxerga oportunidade em qualquer parte do mundo. Depois disso, Anderson deixou de ser cata-vento. Está buscando os céus.

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As novas tecnologias, da viagem espacial à internet, sempre começam com custos muito altos e nas mãos dos militares. Depois, com a expansão em escala, a Lei de Moore* funciona como num passe de mágica. É quando as novas tecnologias atingem o consumidor em geral e é nessa hora que palavras como “personalização” entram em cena. Nesse ponto, não há espaço para apostas. Com os drones, estamos exatamente nesse estágio. Nós estamos começando notar alguns efeitos tais como os que surgiram com o advento do computador pessoal e da internet. A minha esperança é que as pessoas algum dia esqueçam que os drones começaram como uma tecnologia militar.

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E se, a cada manhã, um drone pudesse decolar e fazer a pulverização da lavoura. Ali mesmo no café da manhã, você poderia ter um relatório diário, independente do tipo de plantação que você tenha: tomates, trigo, uvas, entre outras. É possível saber se há um surto de pragas, de fungos ou doenças. Esse tipo de informação é de grande valor para fazendeiros por que isso pode significar uma boa economia. Além de contribuir também para o meio ambiente porque os fazendeiros usarão menos produtos químicos e menos água. Não podemos nos esquecer que temos um grande problema com a indústria mundial do agronegócio que, de acordo com a minha epifania, poderia ser resolvido com câmeras no céu.

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Câmeras estão espalhadas por toda parte, em qualquer lugar da nossa vida. E, é claro, isso gera preocupação em relação à privacidade. No entanto, a nossa percepção no que diz respeito à privacidade que nós temos e aquela que nós imaginamos é bem diferente. Nos Estados Unidos, a regulamentação desse tema é baseada no que nós chamamos de “Expectativa Razoável de Privacidade”, e que abrange o nível distrital. Sendo assim, diferentes bairros têm diferentes expectativas razoáveis de privacidade e que podem mudar a qualquer momento. É aquela velha história: eu tenho uma expectativa, meus filhos outra.

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É difícil ignorar o fato de que estamos vivendo um período de exponencial inovação tecnológica. Os drones personalizados são basicamente os dividendos da paz contra a guerra dos smartphones, no que diz respeito aos componentes de um aparelho – sensores, GPS, câmera, processadores, wireless, memória, bateria – enfim, todas aquelas coisas que são produzidas numa escala incrível para atender os últimos lançamentos da Apple, Google, e outros, e que estão disponíveis por uma bagatela. Há 10 anos, eles eram inacessíveis. E, em sua maioria, foram tecnologias desenvolvidas para a indústria militar; hoje, você pode comprar qualquer um desses produtos nas lojas RadioShack. Nunca vi uma evolução tão rápida na tecnologia como a que acontece atualmente. Tudo isso, porque podemos levar um supercomputador no bolso.

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Atualmente, eu não cometo mais o erro de tentar prever o futuro, prefiro sugá-lo. Tenho uma queda por isso – e me perdoem pelo trocadilho semântico aqui –, por desabar com a famosa afirmação de William Gibson que diz “O futuro é agora, e é simplesmente desigual”. Para prever o futuro, você tem que manter seus olhos bem abertos nele.

* Em 1965, o co-fundador da Intel Gordon Moore previu que o número de transistores em um pedaço de silício iria dobrar a cada dois anos, criando a conhecida Lei de Moore (Fonte: HowStuffWorks)

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