quinta-feira, setembro 05, 2013

O segredo dos grandes compositores britânicos

Músico e compositor, Daniel Rachel escreveu em parceria com a jornalista Caroline Sullivan o livro “Isle of Noises”, que reúne entrevistas com diversos músicos britânicos famosos. O foco das conversas está no processo criativo utilizado naquelas que podem ser consideradas as maiores pérolas da música pop mundial. Com a palavra nomes como Ray Davies (The Kinks), Jonny Marr (The Smiths), Lily Allen e outros. Selecionei trechos, a partir de material publicado no The Guardian de hoje, com o depoimento das seguintes figuras:

John Lydon, Sex Pistols

(Show com a banda PIL, em 1986 / Ives Lorson - Wikimedia)

DR: Você carrega um caderno para anotar frases ou ideias?

JL: Não. Eu nunca faria isso. Urrgh, não sou um integrante do The Clash. Eu me lembro que o Joe Strummer costumava assistir o The News at Six* e anotar os slogans e frases que seriam utilizadas nas canções. Ele não perdia tempo e escrevia coisas como “sten guns in Knightsbridge**” e “White Riot”. Além de ser totalmente fabricado, considero isso ridículo!

Mick Jones, The Clash

Show no Carbon Casino, em 2008. (Pmsphoto - Wikimedia)

DR: Como é que você e Joe Strummer uniam suas ideias para então levá-las ao resto da banda?

MJ: Às vezes eu andava com um gravadorzinho de fita cassete. “Complete Control”, por exemplo, foi feita assim. Em “London Calling” fechamos a letra, mas acabei dando uma suavizada na música que antes tinha uma batida mais robusta... Acho que essas canções vinham quase prontas... Somente mais tarde é que nós partimos para uma pegada mais experimental. Mas, depois, tivemos que cortar esse lado também. A exemplo das duas ideias para “Casbah”***. Bernie [Rhodes]**** disse: “Porque tudo que vocês fazem tem que ser raga?”. Você sabe, aquela música longa... no mesmo ritmo de sempre. Nesse dia, enquanto o aiatolá dizia que não gostava de rock'n'roll, Bernie nos pedia para encurtar tudo. Então o Topper entrou no estúdio, foi incrível. Ele pegou três coisas: o baixo, o piano e a bateria. Eu fiz o refrão “Shareef don't like it”, enquanto o Joe fez a letra. No entanto, Topper foi o grande maestro.

Annie Lennox, Eurythmics

Fac-símile capa do disco Revenge (Reprodução - Wikimedia)

DR: Você continua tomando conta de tudo nas composições como na época da parceria com Dave Stewart?

AL: Eu nunca pensei dessa maneira, acontece que eu escrevia as letras e o Dave trabalhava como um tutor/mentor nesse departamento (composição). Às vezes, eu escrevia 90% de uma canção... como em “Sisters Are Doin' It for Themselves” ou “There Must Be an Angel (Playing With My Heart)”, onde o Dave contribuiu com ótimas sacadas musicais em termos de forma e estrutura. Ele também ajudou bastante em ideias que começaram do zero, como “Sweet Dreams” e “Here Comes the Rain Again”. Em razão de ser aficionado por tecnologia de ponta, Dave era definitivamente o responsável pela parte técnica do processo de gravação. Nesse sentido, ele pode até ser considerado o “produtor”, embora eu também atuasse de forma mais orgânica na produção. Nós sempre dividimos tudo meio a meio, e é assim que enxergamos a nossa parceria.

* Noticiário da BBC de Londres, talvez comparado ao Cidade Alerta.
** Verso da canção 1977, do disco The Clash. Knightsbridge é um bairro de Londres, em livre tradução a frase seria algo como “as pistolas alemãs em Knightsbridge”.
*** Rock The Casbah, canção do disco Combat Rock.
**** Produtor e empresário da banda The Clash.

quarta-feira, junho 12, 2013

Protesto civilizado

O retorno da lógica “estupra, mas não mata”

Eu sei. Você não é favorável aos protestos contra o aumento de passagem do ônibus. Não concorda com a depredação do patrimônio público e considera injustificável o rastro de destruição deixado pelos manifestantes. Ou melhor, os tais baderneiros, vândalos e terroristas.

Manifestantes na avenida Paulista (Foto: Ricardo Rosseto)

Dessa linha de raciocínio também comunga a prefeita de São Paulo em exercício, a vice Nádia Campeão que, na rádio Estadão-ESPN, qualificou os atos como condenáveis. A população idem. Hoje, o avatar Rua Xingu, às 9h30, comentou no portal Globo.com “protesto por aumento de 20 centavos é uma vergonha”; o internauta Luiz Ruivo Filho, às 10h, no UOL, concluiu “certamente não se trata de um protesto natural mas, isto sim, da execução de um cronograma muito bem engedrado por baderneiros e desocupados que remete ao terrorismo. É próprio de deliquentes. Lamentavel. Tem de ser combatidos com rigor.”

Em menor número existem na seara digital oficial, mais precisamente no portal Terra, uns tais Dirceus – não o José, mas o Ribeiro – questionando a interpretação dos fatos: “os 'BADERNEIROS' fizeram uma manifestação por uma causa justa. E 'OS MENSALEIROS' que botaram a mão no bolso do povo?”.

Ontem (11/06), o jornalista Ricardo Rosseto, da Carta Capital, estava in loco no momento do conflito entre a polícia e manifestantes. Por volta das 22h40, Rosseto postou na rede social Facebook: “De acordo com o tenente-coronel Pignatari, comandante da situação, ao menos 20 pessoas tinha sido presas até às 22h30, horário em que ele ofereceu uma mini-coletiva ali mesmo na esquina da Haddock Lobo com a Paulista. Eles estavam sendo levados para o 78º DP, nos Jardins. Na maioria dos casos por depredação. A maior ofensa, entretanto, segundo ele, era desacato. Mas não havia camburão pra leva todo mundo que xingasse a PM, conforme falou Pignatari.”

Os representantes públicos trabalham para manter a ordem, mas a juventude urge. “Tem mais, às 17h, saindo do Teatro Municipal”, informou Rosseto em referência ao ato de amanhã (quinta-feira). “O governador está curtindo em Paris com o $ dinheiro (patrimônio) público e de lá quer processar aqueles que lutam por transporte coletivo de qualidade e preço justo”, avaliou o internauta Diogo, às 10h48, na Folha Online.

Enquanto isso, a população se posiciona: “pode protestar, mas sem violência”. Os fantasmas contra-atacam.

quinta-feira, junho 06, 2013

CIA investe em robôs escritores

Autor: Alex Fitzpatrick
Fonte: Mashable

A administração do presidente Obama pode estar trocando a CIA pelo Pentágono no controle do programa de drones do país, no entanto os robôs não ficarão desempregados em Langley* - ao menos, como escritores.

Sede da CIA, na Virgínia (EUA) / (Jim Sanborn/Wikimedia)

O braço de capital de risco da CIA, a In-Q-Tel, investiu uma quantia ainda desconhecida na empresa Narrative Science, que desenvolveu um software capaz de transformar grande quantidade de dados em textos de fácil interpretação e leitura, segundo o site All Things D.

Com sede em Chicago, a Narrative Science começou transformando em texto as pontuações nos games de beisebol – algo semelhante aos comentários publicados nas colunas de esporte dos jornais locais.

Naturalmente, a Narrative Science levantou algumas questões que causaram impacto no jornalismo: será que ainda precisamos de escritores para descrever os eventos diários, se cada vez mais os jornalistas se afastam do “aqui está o porquê isso aconteceu” para o “aqui está o que aconteceu”? Ou, se já existem robôs que podem fazer muito bem esse trabalho? E aí por diante.

Apesar do impacto imediato no mundo jornalístico, os principais clientes da Narrative Science estão na área de serviços financeiros, marketing e campos de pesquisa. A CIA se encaixa na última categoria – a agência recolhe dados brutos que são mais atrativos aos seus pesquisadores e utiliza as mãos automatizadas para transformar todas essas informações em relatórios legíveis, que serão distribuídos aos agentes e superiores.

“A plataforma de inteligência artificial da Narrative Science analisa as informações e comunica esses dados de uma forma fácil de se ler e compreender”, disse Steve Bowsher, um dos sócios e gerentes da IQT, através de sua assessoria de imprensa. “Acreditamos que essas novas ferramentas podem ser de grande valor para os clientes que trabalham com Inteligência Estratégica”.

Será que a CIA vai utilizar escritores artificiais em tudo?

* Cidade norte-americana no Estado da Virgínia onde situa-se o quartel general da CIA.

quarta-feira, junho 05, 2013

Rápido no gatilho

Anúncio de página inteira nos jornais The Wall Street Journal e USA Today. Filme sobre a promoção (Cupom de US$ 1 de desconto) integrado com Twitter e outras redes sociais, apresentado pelo próprio diretor da empresa. É assim que a Carl's Jr.® & Hardee's® se mobilizou quando a líder mundial dos fast foods encerrou as vendas do Angus Third Pounder (no Brasil, o McAngus).


Caros consumidores de McDonald's®, 

Nós ficamos sabendo que o McDonald's® parou abruptamente de vender o hambúrguer de carne de Angus, deixando muitos de vocês desapontados, confusos e chateados. 

Ninguém curtiu essa restrição.

É por isso que, por tempo limitado, a Carl's Jr.® & Hardee's® vai oferecer o seu melhor e maior sanduíche, o Six Dollar Burguer™, com 100% carne de Black Angus, por bem menos do que você pagaria no McDonald's®. 

Acesse ReclaimYourAngus.com e faça o download do seu cupom. 

Portanto, se você estiver se perguntando onde vai comer um lanche com carne de Angus, a resposta é aqui. Somos a maior rede de fast food a servir os harbúgueres com carne 100% de Black Angus. Quer dizer, agora, somos os únicos.

Obrigado e te esperamos lá,

Andy Puzder
CEO of Carl's Jr. & Hardee's

segunda-feira, junho 03, 2013

O futuro é da carne falsa

Autor: Daniela Hernandez
Fonte: Wired

Sneak de frango falso (Foto: http://www.quarrygirl.com)

Pensando em mandar um suculento x-burger duplo? Você não está sozinho.

“Existe uma relação de amor com a cultura da carne”, disse Ethan Brown, CEO da start-up produtora de carne alternativa Beyond Meat, algo como “Além da Carne”, na 5ª Conferência de Negócios da Wired, em Nova Iorque.

Brown participou do evento e esclareceu algumas questões sobre o tema.

A Beyond Meat, com sede em Maryland, é voltada para o mercado de carne sintética e tem como carro-chefe as tiras de frango falso. No entanto, o público da empresa não são necessariamente vegans e vegetarianos*, mas sim os flexs, uma nova espécie de carnívoros ambientalmente conscientes que se satisfazem degustando tanto um tofu quanto uma costela de porco. Segundo Brown, os flexs somam cerca de 90 milhões de pessoas nos EUA, e muitos deles estão se despedindo da carne. Se depender de Brown, mais gente vai entrar para a turma.

Essa estratégia inclusiva faz da Beyond Meat uma empresa diferenciada em relação às outras que atuam no mercado de carne alternativa. Eles não querem trabalhar com um produto especializado. Almejam ser a Tyson ou a Perdue** dos produtos de carne à base de vegetais, e fazer algo tão popular quanto o bife frito, o frango assado e o churrasco de picanha.

Tendo em vista movimentos como o Meatless Monday, ou a Segunda Sem Carne, que ganham popularidade em toda a América, Brown considera que em pouco tempo o Silicon Valley deve começar a investir em companhias de alimentação. A Beyond Meat também está atuando pesado nas redes sociais, divulgando seus conceitos além dos tradicionais consumidores que não comem carne. De fato, a empresa possui mais seguidores no Twitter do que marcas antigas e mais conhecidas como a Tofurky.

Por enquanto, a Beyond Meat, que recebeu aportes do fundo de investimentos Obvious Corporation, dos co-fundadores do Twitter Biz Stone e Evan Willians, trabalha apenas com carne de frango, mas planeja expandir em breve os negócios para a carne bovina.

Ao tentar colocar seu produto entre a carne bovina, suína, de peixe e aves, tornando-o um alimento básico como qualquer outro, Ethan Brown se posiciona à frente da revolução da carne falsa. Essa proposta, acredita ele, pode mudar o jeito como as pessoas pensam a respeito dos substitutos da carne. Atualmente, os Tofurkies e Boca Burgers da vida estão relegados às sessões vegan ou vegetarianas dos supermercados, o que Brown chama de banco de reservas. Ou seja, os produtos não estão ao lado das carnes que eles supostamente iriam substituir. Este é o problema, no que outros especialistas concordam.

“Uma nova opção de alimento só é alternativa de verdade se estiver lado a lado dos produtos tradicionais”, disse Isha Datar, diretora da New Harvest, uma organização sem fins lucrativos que defende o consumo de fontes alternativas de proteína. “A não ser que você seja vegan, não se sabe onde esses produtos estão nas lojas. Na minha opinião, isso não é uma alternativa real”.

Ajudar as pessoas a mudar seus hábitos alimentares pode ser crucial, uma vez que alguns estudos indicam que a maneira de se produzir e consumir carne não é nenhum pouco sustentável.

“O setor de transporte contribui com 18% das emissões dos gases que causam o efeito estufa. Já a pecuária, de acordo com as estimativas, contribui com 51%”, disse Ethan Brown durante a conferência. É esse cenário que o inspira a engatar a primeira marcha na área de proteínas e acelerar em direção à comida.

A carne falsa de frango, que agora é vendida em lojas especializadas, é resultado do trabalho árduo de Fu-hung Hsieh e Harold Huff, dois cientistas da Universidade do Missouri, em Columbia, que há 15 anos se dedicam ao projeto (tecnologia cuja patente a Beyond Meat é detentora exclusiva). Hsieh e Huff passaram anos aprimorando a maneira de se resfriar, aquecer e pressionar a mistura de proteína de soja, através de uma extrusora, até chegar na aparência e textura mais semelhante possível de uma tira de frango natural.

Segundo Huff, um dos criadores da carne falsa de frango, uma das primeiras coisas que as pessoas avaliam em um alimento é a aparência e, depois, a textura. Em terceiro ou quarto lugar, está o sabor. E tem mais. “As pessoas não querem comer um frango e sentir outro sabor que não seja de tudo aquilo que foi utilizado no preparo, desde os condimentos até os temperos. Ninguém quer saber do gosto da carne de frango em si. E uma das vantagens desse produto é que vai bem em qualquer época do ano”, disse Huff.

O cientista informou que continuará trabalhando com a Beyond Meat para desenvolver novas alternativas à carne de frango, bem como para ajudar Brown a alcançar o seu objetivo de expansão da proteína vegetal. Brown quer ver a proteína animal seguir o mesmo caminho das carruagens após o advento do automóvel. “Por ventura, foi necessário se desvencilhar dos cavalos”, concluiu.

* Veganismo é um estilo de vida em respeito aos animais e que, portanto, evita o consumo e o uso de qualquer produto de origem animal (Fonte: veganismo.org.br). O Vegetarianismo tem a mesma filosofia alimentar, mas no cotidiano utilizam alguns produtos de origem animal (Fonte: centrovegetariano.org).

** Redes norte-americanas de produção e venda de carne de frango a exemplo da Seara e da Sadia, mas como lojas exclusivas no varejo.

terça-feira, maio 28, 2013

Veneno nas veias

Imagine um ser humano qualquer. Agora, imagine esse ser humano como uma pessoa que é apaixonada por vasos persas. Imagine que essa pessoa faça qualquer coisa para obter um vaso desses. Imagine que essa pessoa coloque até mesmo outro ser humano abaixo de um vaso persa em nível de importância. Imagine que essa pessoa, por uma vaso persa, chegue ao ponto de eliminar, ou seja matar, outro ser humano.

De quem estamos falando? Quem veio à sua memória? Um ditador?

Agora, troque esse ser humano qualquer por um garoto da comunidade, da periferia ou da favela, como preferir. Depois, troque o vaso persa por um tênis Mizuno que custa quase 1 mil reais. Em seguida, troque a necessidade de se obter um tênis Mizuno a qualquer custo por diversas prestações mensais ou por um mero assassinato.

De quem estamos falando? O que está acontecendo?

Geneton Moraes Neto e Joel Silveira, no Rio de Janeiro (geneton.com.br)

Ontem, sai do Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo, na rua Rego Freitas, palco histórico das lutas pela liberdade de expressão neste país, e fui subindo a rua da Consolação pensando nos parágrafos acima. Fui ao Sindicato assistir à exibição do documentário “Garrafas ao Mar: A víbora manda lembranças”, do jornalista Geneton Moraes Neto. O filme simplesmente trata da carreira e dos últimos dias de um dos maiores nomes do jornalismo, não só brasileiro, como mundial: Joel Silveira.

Éramos três ou quatro dezenas de gatos pingados no auditório Vladimir Herzog. Mas Geneton, Audálio Dantas, Sérgio Gomes, e outros importantes nomes das redações brasileiras, estavam presentes. “Há espaço para o texto de Joel Silveira nos veículos atuais?”, questionou Geneton. Não, não há, concluiu-se. Para quem tem o coração de um verdadeiro jornalista, o documentário é emocionante.

Confesso: não entendo. Por isso, rumino.

O ditador sanguinário e egoísta tem o direito de considerar que vasos persas são mais importantes do que seres humanos? Tem. O garoto da comunidade, da periferia, da favela, tem o direito de considerar o tênis Mizuno de 1 mil reais mais importante do que um ser humano? Tem. Mas o jornalista, o nobre repórter, nunca pode se render e querer fazer parte da banda. Estou com Joel Silveira, talvez enterrado, mas assistindo com todo orgulho a banda passar. Proseando com os Repórteres do Futuro, escrevendo neste mísero blog, mas vendo a banda passar.

segunda-feira, maio 27, 2013

As epifanias de Chris Anderson

O empreendedor e especialista em tecnologia fala sobre drones, vigilância e o que está por vir

Autor: Benjamin Pauker

Chris Anderson durante palestra em San Diego, 
na Califórnia (James Duncan Davidson/Wikimedia)

Chris Anderson já foi chamado de diversas coisas: visionário, pioneiro da economia na internet e evangelizador do ideal Do it Yourself 2.0 (Faça você mesmo). Contudo, não seria imprudente compará-lo a um cata-vento: ou seja, ele não pode controlar as correntes de ar, mas certamente é o primeiro a indicar qual a direção do vento. Físico, com especialização em mecânica quântica, foi Anderson que trouxe as curiosidades científicas para dentro da revista Wired. Durante seus 12 anos como editor, a publicação fez ciência e tecnologia parecer algo legal para os leitores. Nesse período, escreveu a trilogia das grandes ideias do Vale do Silício, na Califórnia, apresentando teorias como a “Calda Longa”, ou a venda online de qualquer coisa, e o conceito de gratuidade como um bom negócio. Seu último manifesto é “Makers: The New Industrial Revolution”, algo como “Fabricantes: a Nova Revolução Industrial”, onde ele conta estar investindo o seu dinheiro na 3D Robotics, uma empresa faça-você-mesmo que fabrica drones e enxerga oportunidade em qualquer parte do mundo. Depois disso, Anderson deixou de ser cata-vento. Está buscando os céus.

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As novas tecnologias, da viagem espacial à internet, sempre começam com custos muito altos e nas mãos dos militares. Depois, com a expansão em escala, a Lei de Moore* funciona como num passe de mágica. É quando as novas tecnologias atingem o consumidor em geral e é nessa hora que palavras como “personalização” entram em cena. Nesse ponto, não há espaço para apostas. Com os drones, estamos exatamente nesse estágio. Nós estamos começando notar alguns efeitos tais como os que surgiram com o advento do computador pessoal e da internet. A minha esperança é que as pessoas algum dia esqueçam que os drones começaram como uma tecnologia militar.

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E se, a cada manhã, um drone pudesse decolar e fazer a pulverização da lavoura. Ali mesmo no café da manhã, você poderia ter um relatório diário, independente do tipo de plantação que você tenha: tomates, trigo, uvas, entre outras. É possível saber se há um surto de pragas, de fungos ou doenças. Esse tipo de informação é de grande valor para fazendeiros por que isso pode significar uma boa economia. Além de contribuir também para o meio ambiente porque os fazendeiros usarão menos produtos químicos e menos água. Não podemos nos esquecer que temos um grande problema com a indústria mundial do agronegócio que, de acordo com a minha epifania, poderia ser resolvido com câmeras no céu.

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Câmeras estão espalhadas por toda parte, em qualquer lugar da nossa vida. E, é claro, isso gera preocupação em relação à privacidade. No entanto, a nossa percepção no que diz respeito à privacidade que nós temos e aquela que nós imaginamos é bem diferente. Nos Estados Unidos, a regulamentação desse tema é baseada no que nós chamamos de “Expectativa Razoável de Privacidade”, e que abrange o nível distrital. Sendo assim, diferentes bairros têm diferentes expectativas razoáveis de privacidade e que podem mudar a qualquer momento. É aquela velha história: eu tenho uma expectativa, meus filhos outra.

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É difícil ignorar o fato de que estamos vivendo um período de exponencial inovação tecnológica. Os drones personalizados são basicamente os dividendos da paz contra a guerra dos smartphones, no que diz respeito aos componentes de um aparelho – sensores, GPS, câmera, processadores, wireless, memória, bateria – enfim, todas aquelas coisas que são produzidas numa escala incrível para atender os últimos lançamentos da Apple, Google, e outros, e que estão disponíveis por uma bagatela. Há 10 anos, eles eram inacessíveis. E, em sua maioria, foram tecnologias desenvolvidas para a indústria militar; hoje, você pode comprar qualquer um desses produtos nas lojas RadioShack. Nunca vi uma evolução tão rápida na tecnologia como a que acontece atualmente. Tudo isso, porque podemos levar um supercomputador no bolso.

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Atualmente, eu não cometo mais o erro de tentar prever o futuro, prefiro sugá-lo. Tenho uma queda por isso – e me perdoem pelo trocadilho semântico aqui –, por desabar com a famosa afirmação de William Gibson que diz “O futuro é agora, e é simplesmente desigual”. Para prever o futuro, você tem que manter seus olhos bem abertos nele.

* Em 1965, o co-fundador da Intel Gordon Moore previu que o número de transistores em um pedaço de silício iria dobrar a cada dois anos, criando a conhecida Lei de Moore (Fonte: HowStuffWorks)

segunda-feira, maio 13, 2013

A Opinião Obtusa


O portal UOL lançou a alguns dias uma enquete que pode até passar despercebida, pois está disponível no canto inferior direito da página, mas que não deixa de ser bastante elucidativa. “Você acha que se não fosse pela ditadura militar, o Brasil hoje seria um país comunista?”, questiona o portal que oferece três alternativas básicas como resposta: sim, não e não sei.

Fac-símile home UOL (13/5/2013)

O surgimento da enquete coincidiu com a polêmica em torno dos depoimentos do cantor Lobão e a, conseqüente, represália de artistas como o rapper Mano Brown e o escritor Marcelo Rubens Paiva. Lobão parece levantar a bandeira do que os especialistas chamam “nova direita”.

Curioso, porém, é o resultado da enquete do UOL. Até às 11h de hoje (13/5), foram computados 42.944 votos. Quase 63% deles direcionados à resposta “Sim, com certeza, a ditadura militar evitou que o comunismo fosse implantado pelos esquerdistas”; enquanto pouco mais de 31% optaram pelo “Não, a ditadura militar foi uma época cheia de torturas e crimes obscuros”. O restante, quase 6%, não tem opinião formada sobre o assunto.

Fac-símile da home UOL (13/5/2013)

Direita e esquerda foram dados como mortos no Brasil atual, após alianças inusitadas na seara política. No que diz respeito à opinião pública, a dicotomia chama a atenção e não pode ser desconsiderada. Ao que tudo indica vai direcionar em peso o discurso das próximas eleições. Os militares que o digam.

terça-feira, abril 09, 2013

Penny Bailey e o jornalismo científico: “o ideal é sempre contar uma boa história”


Blog do The Guardian acompanhou o Prêmio de Jornalismo Científico Wellcome Trust 2013 e perguntou aos principais jornalistas do setor como é trabalhar com ciência.

Sala com genomas no Wellcome Collection (Russ London/Wikimedia/Commons)

The Guardian: O que faz uma história sobre ciência ser interessante?

Penny Bailey: “Intensidade”, a história tem que mexer com você. E os sentimentos de intensidade surgem a partir de uma série de abordagens, tais como:
- Os aspectos humanos da história – com a exposição das principais características do (s) personagem (ns) e a sua jornada pessoal –, o lado científico e as pessoas cujas vidas serão afetadas pela ciência.
- Alguns elementos inerentes ao drama – como por exemplo, os obstáculos aparentemente intransponíveis, concorrência, tomada de decisões, problemas e soluções, e cronogramas.
- As surpreendentes artimanhas científicas.
- O ineditismo da história – se a história não é inédita, deve-se abordar o assunto de uma forma diferente, nova.

É preciso entender de ciência para se escrever um bom texto?

O importante é contar uma boa história. É óbvio que se você entende de ciência, ou dos temas relacionados com a área, sua discussão será mais consistente.

Como você começa os seus textos?

Eu costumo escrever todo o artigo primeiro para depois fazer o lead (embora eu já tenha idéia do que eu quero destacar). Porque a abertura é um ponto crítico para atrair o leitor – além disso, minhas melhores idéias raramente são aquelas que penso de imediato –, por isso, sempre utilizo abordagens diferentes antes de selecionar aquela que considero a mais atrativa e relevante para começar a história.

Como você faz para extrair as informações de um entrevistado?

Ter em mente o que eu pretendo escrever e o que devo questionar junto ao entrevistado ajuda bastante – assim como deixar claro as minhas intenções antes de começar a entrevista. É recomendável também sempre ter uma lista de perguntas. Alguns cientistas são naturalmente grandes contadores de histórias e, nesse caso, você tem só que ouvi-los, mas outros – que não deixam de ter boas histórias para contar – necessitam de um pouco mais de conversa e incentivo.

Você trabalha com analogias e metáforas nos seus textos?

Sim, para facilitar o entendimento da história ao explicar conceitos mais complexos.

Quanta informação fica fora dos textos?

Isso depende muito da pauta e do limite de caracteres. Geralmente, deixo de fora coisas que não comprometem o texto e que realmente não acrescentam algo novo a história, mesmo que sejam informações interessantes.

Como equilibrar o texto objetivo com a pegada de um contador de histórias? É possível?

Se estou avaliando uma situação complexa nas quais as respostas não são fáceis (ou que não sejam muito claras), tento manter a objetividade e equilibrar as diferentes opiniões e pontos de vista. Outra possibilidade, é trazer o furo na resposta final. Se tenho o meu ponto de vista da situação, foco nos elementos da história para apoiar essa visão.

Qual é o maior contratempo no ramo de quem escreve sobre ciência?

É muito fácil se envolver com os detalhes técnicos da ciência e desprezar os elementos que dão vida à história.

Penny Bailey é escritor do Wellcome Trust.

Da Série: O Segredo dos grandes jornalistas científicos
Prêmio de Jornalismo Científico Wellcome Trust 2013
Uma parceria entre o The Guardian e o The Observer

Fonte: The Guardian

domingo, abril 07, 2013

Grandes Cientistas # Bons Matemáticos


E. O. Wilson revela um segredo: Descobertas surgem de idéias, não de números impressionantes

Professor emérito de Harvard, Edward O. Wilson (Jim Harisson/Wikimedia/Commons) 

Para alguns jovens que pensam em se tornar cientistas, a matemática é o grande pesadelo. Sem conhecimento matemático, como é que se pode fazer um trabalho científico de verdade? Bom, eu tenho um segredo profissional para revelar: alguns dos cientistas mais bens sucedidos do mundo atualmente são semi-analfabetos em matemática.

Durante décadas como professor de biologia em Harvard, vi com tristeza estudantes brilhantes desistirem da carreira científica temendo que não pudessem obter sucesso sem grandes habilidades matemáticas. Esse equívoco tem privado a ciência de enorme quantidade de talentos, muitos deles desperdiçados. Isso criou uma hemorragia criativa que precisa ser estancada.

Falo com autoridade sobre o assunto porque eu mesmo sou um caso extremo. Até o primeiro ano na Universidade do Alabama, eu não sabia nada sobre álgebra porque estudei durante anos nas escolas precárias de Southern. Só fui aprender a calcular aos 32 anos, quando me tornei professor de Harvard e depois que sentei, desconfortavelmente, em uma sala de aula com estudantes que tinham pouco mais que a metade da minha idade. Dois deles eram alunos no curso de biologia evolucionista da qual eu era o professor. Tive que engolir o meu orgulho e aprender a calcular.

Quando jovem, fui um estudante que mal se aproximava da nota C, e só consegui me tranqüilizar quando descobri que ter uma grande habilidade em matemática era a mesma coisa que ser fluente em línguas estrangeiras. Em línguas é assim: com um pouco mais de esforço e algumas sessões de conversação com estrangeiros, consegue-se falar bem. Mas tudo isso compromete o laboratório e os campos de pesquisa, e nos faz avançar em uma única direção.

Felizmente, o dom excepcional exigido pela matemática se restringe somente a algumas disciplinas, tais como a física, astrofísica e teoria da informação. Além disso, mais importante do que a ciência como um todo é a habilidade de criar conceitos, momento em que o pesquisador vislumbra intuitivamente imagens e modelos de pesquisa.

Às vezes, todo mundo viaja em idéias como um cientista. Bem organizadas, as fantasias são o fio condutor de todo o pensamento criativo. Newton sonhava, Darwin sonhava, você sonha. Nossos primeiros devaneios são sempre muito vagos. Aos poucos vão tomando forma, e crescem com maior consistência a medida que são esboçados em blocos de papel e que ganham vida como exemplos reais do objetivo da pesquisa.

Os primeiros cientistas raramente fizeram descobertas extraindo idéias da matemática pura. A imagem estereótipo de cientistas estudando linhas e mais linhas de equações no quadro negro servem para exemplificar apenas descobertas já realizadas. As verdadeiras “sacadas” surgem no campo das anotações, no meio do escritório abarrotado de papéis rabiscados, no corredor durante uma discussão com um amigo ou no almoço solitário. Os momentos de Eureca resultam de trabalho pesado. E foco.

Idéias científicas surgem com facilidade quando os envolvidos na pesquisa trabalham em prol do bem comum, em benefício de todos. De forma intuitiva, os pesquisadores organizam suas idéias para melhor extrair um fragmento real sobre tudo que existe. Quando algo novo é encontrado, é necessário aplicar um modelo de avaliação que sempre exige métodos estatísticos ou matemáticos para dar prosseguimento às análises. As dificuldades técnicas que surgem nessa fase são duras para quem realizou a descoberta, por outro lado, a matemática e a estatística podem ser vistas como grandes colaboradores.

Na década de 1970, desenvolvi junto com o teórico matemático George Oster os princípios de casta e de divisão de trabalho em sociedades de insetos. Forneci os detalhes a respeito do que havia sido descoberto na natureza e nos laboratórios, e ele utilizou seu kit de ferramentas, cheio de hipóteses e teorias, para capturar esses fenômenos. Sem as minhas informações, Oster poderia até desenvolver uma teoria geral, mas não teria como deduzir quais as variações seriam possíveis em relação aos fenômenos.

Durante anos, publiquei diversos estudos em co-autoria com estatísticos e matemáticos afim de oferecer mais credibilidade aos princípios adotados. Chamo a isso de o 1° Princípio de Wilson: é bem mais fácil para os cientistas adquirir a colaboração indispensável de estatísticos e matemáticos dos que os mesmos encontrar cientistas capazes de utilizar suas equações.

Esse impasse é um caso específico na biologia, onde fatores da vida real se transformam em fenômenos mal compreendidos ou que passam despercebidos, sem que sejam notados. Os anais teóricos da biologia estão entupidos de modelos matemáticos que podem ser satisfatoriamente ignorados ou, se testados, falhos. É bem provável que somente 10% de tudo isso tenha valor duradouro. Ou seja, salvam-se aqueles ligados diretamente com o conhecimento empregado na vida real.

Se o seu nível de competência matemática é pequeno, planeje aumentá-lo, entretanto, saiba que você pode fazer um trabalho científico marcante com o que você tem em mãos. Mas, pense duas vezes, ao se especializar em campos que trabalham com experimentos de estreita alternância e com análises quantitativas. Isso inclui a maioria dos químicos e físicos, bem como alguns especialistas em biologia molecular.

Newton inventou cálculos como forma de dar vazão a sua imaginação. Darwin não tinha quase habilidade alguma em matemática, mas, com a enorme quantidade de informações que acumulou, pode conceber sistemas que tempos depois seriam utilizados por matemáticos.

Aos aspirantes a cientista, o primeiro passo é encontrar um assunto que seja profundamente interessante e que se tornará seu principal foco. Ao fazê-lo, tenha em mente o 2° Princípio de Wilson: para todo cientista, existe uma disciplina cujo o nível de exigência em matemática não compromete o alcance da excelência.

sábado, abril 06, 2013

Geoff Brumfiel e o jornalismo científico: “Ouça opiniões contrárias”


Blog do The Guardian acompanhou o Prêmio de Jornalismo Científico Wellcome Trust 2013 e perguntou aos principais jornalistas do setor como é trabalhar com ciência.

Apatosauro, Museu de História Natural de Nova Iorque (Wikimedia)

The Guardian: O que faz uma história sobre ciência ser interessante?

Geoff Brumfiel: Tem muita coisa em ciência que pode se transformar em boas histórias. Podemos escrever sobre uma nova pesquisa, bem como alertar a potencial ameaça presente em uma nova tecnologia. Ou simplesmente fazer com que as pessoas pensem o mundo de uma forma um pouco diferente.

É preciso entender de ciência para se escrever um bom texto?

Meu primeiro editor dizia que era muito mais importante saber escrever do que entender de ciência. Ele tinha razão, no entanto, o conhecimento científico ajuda bastante!

Como você começa os seus textos?

Cuidadosamente. Nas reportagens, em especial, você tem de acertar na primeira linha, se não anula o resto da matéria.

Como você faz para extrair as informações de um entrevistado?

Silêncio. Na tentativa de preencher uma desconfortável lacuna no diálogo, as pessoas acabam contando coisas interessantes.

Você trabalha com analogias e metáforas nos seus textos?

Com moderação, apenas nos momentos necessários.

Quanta informação fica fora dos textos?

Bastante, mas acredito que não sejam as mais importantes.

Como equilibrar o texto objetivo com a pegada de um contador de histórias? É possível?

Objetividade é tudo o que um escritor profissional precisa ter, sendo assim, você tem que encontrar os melhores caminhos nesse sentido. Parece que, com o passar dos anos, isso fica estranhamente mais fácil. Mas se você não quer ter problemas, a coisa mais correta a se fazer é ouvir opiniões contrárias, e respeitá-las. Ou então, apenas citá-las em seus textos.

Qual é a maior inverdade no ramo de quem escreve sobre ciência?

As pessoas pensam que quem escreve sobre ciência promove a ciência ou o pensamento científico. Isso não é verdade, o trabalho de qualquer repórter é informar as pessoas a respeito de tudo o que acontece ao nosso redor.

Geoff Brumfiel é jornalista de ciência da NPR e um dos fundadores da Nature.

Da Série: O Segredo dos grandes jornalistas científicos
Prêmio de Jornalismo Científico Wellcome Trust 2013
Uma parceria entre o The Guardian e o The Observer

Fonte: The Guardian

sábado, março 23, 2013

Homem tenta vender imóvel e receber em Bitcoins


 Autor: Eric Larson

A exemplo de quase tudo hoje em dia, o mercado imobiliário está muito difícil. Mesmo assim, um homem resolveu incluir um viés técnico nessa questão: vender sua casa em moeda digital.

Vista do campus central da Universidade de Alberta (Glenlarson / Wikimedia)

Taylor More, de Alberta, no Canadá, colocou seus bangalôs de dois quartos à venda na internet. Ele está pedindo 405,000 dólares canadenses (cerca de 400,000 dólares americanos) no dinheiro ou, a quem possuir, cerca de 5,750 Bitcoins.

Bitcoin é um sistema de movimentação financeira digital descentralizada, e nos moldes peer-to-peer (P2P, direto, ponto-a-ponto), que vem ganhando aparência nos últimos anos. Trata-se essencialmente de moedas virtuais que podem ser enviadas diretamente pela internet. Ao contrário das transações financeiras oficiais, os Bitcoins não têm uma unidade central; as movimentações são realizadas sem intermediários.

Atualmente, segundo reportagem da CNET, a taxa de câmbio é de 65,05 dólares para cada Bitcoin. Apesar do anúncio, Taylor More diz que não está completamente seguro em receber apenas Bitcoins. No post, ele escreveu:

“Se você tem 450.000 dólares canadenses eu não posso fazer qualquer desconto, mas, dependendo de quantos Bitcoins você tiver para negociar na transação, no total ou parcial, o preço pode cair”.

Fonte: Mashable

domingo, março 17, 2013

Tudo em família


Autor: Claire Vaye Watkins*

Quem primeiro veio para o Vale da Morte foi meu pai, motivado pelo discurso de Charles Manson. Ele sempre fazia o que Charlie pedia, e dizia que isso significava ser uma “Família”. O deserto que meu pai conheceu foi o lugar dos buggies de areia e do Juízo Final, a terra acessível apenas por veículos com tração nas quatro rodas, onde nem mesmo Helter Skelter cruzaria o seu caminho. Ele ficou no Vale da Morte durante os assassinatos do caso Tate-LaBianca e depois fugiu. Foi aqui que um velho garimpeiro chamado Crockett perguntou-lhe, depois da matança, se ele realmente acreditava naquela besteira toda do Charlie. E foi aqui que o meu pai sentiu pela primeira vez a textura aveludada da argila dentro das suas unhas, a liberdade de puxar um pedaço opala ou turquesa da rocha com suas próprias mãos, o cheiro no ar de ervas do campo depois da chuva.

Charles Manson ao ser preso, em 1969 (Wikimedia/Commons)

Acredito que era nisso que ele pensava no dia em que se aproximou de Charlie no Spahn Ranch – depois dos assassinados mas antes do ataque – e perguntou se os acordos seriam cumpridos. Ou a noite, pouco depois de abrir a porta da choupana, meio sonâmbulo, e encontrar Charlie e Tex agachados no meio da escuridão e com facas entre os dentes. O deserto foi a sua salvação, o amor da sua vida. Por 15 anos, até o dia em que eu nasci. O que seria de nós se este lugar não tivesse salvado o meu pai?

Assisti um vídeo dele todo bronzeado na CNN usando uma camisa de abotoar até o pescoço com uma gravata de bolinhas. Vi que ele perdia tempo com um receptor defeituoso enquanto falava sobre os amigos e a “Família”, repetindo sem parar, como estivesse louco. Eles se consideravam anjos divinos, uma onda revolucionária que salvaria o mundo. Em outro vídeo, ele está apoiado em travesseiros e deitado na cama de onde não saiu até morrer de leucemia. Ele olha para dentro da câmera e diz: Aqui estou eu, minhas lindas. Quero que vocês saibam que as amo muito. E também quero que vocês saibam tudo o que eu fui.

Quer dizer que ele pensou que poderia ser questionado um dia? Quando ele morreu, eu tinha seis anos. Não tenho nenhuma lembrança que ele esperava que eu tivesse. Mas tenho CNN e Helter Skelter. Às vezes, eu vejo ele lá. Vejo novamente suas entrevistas, ouço sua voz grossa e trêmula em muitos lugares familiares. Ouço, mas acho que ele não gostaria que eu falasse sobre isso.

Na verdade, o que ele me deixou foi isso aqui: um lugar distante no meio do deserto, na altura da Highway 127, ao sul do Vale da Morte. Vemos isso aqui como turistas, apesar de que somos o oposto; afinal de contas esse é um lugar que nós conhecemos muito bem. Eu e minha irmã estamos com os pés no chão, ela movimenta os braços, eu mexo na terra. Aqui, neste solo perigoso cheio de: cabeças de bode, arbustos espinhosos e plástico. Escorpiões e cascavéis. Sim, é possível encontrá-los por todos os lados. Exatamente como era quando meu pai andava por aqui com a “Família” antes de existir a nossa família.

Certa vez me contaram que nossos cães rodearam uma cascavel enorme perto de casa. Meu pai pegou a cobra e cortou a cabeça dela com uma pá, e fez questão de nos mostrar. Minha irmã estava aprendendo a andar e ficou curiosa, tal como a filha dela é hoje, e pegou a cobra morta nas mãos. Ouvi essa história tantas vezes, tive que jurar que se tratava de uma lembrança. Então, minha irmã pegou a extremidade cortada daquela cascavel, levou à boca e começou a chupar.

*Escritora norte-americana, filha de Paul Watkins, um dos braços direitos da seita de Charles Manson, que não teve participação nos assassinatos e, portanto, não foi condenado. Paul Watkins faleceu em 1990.

sexta-feira, março 15, 2013

As sacadas medievais para a irracionalidade do Pi


Autor: Samuel Arbesman

É o Pi Day (O Dia do Pi foi comemorado ontem). E para homenagear a data decidi fazer uma breve pesquisa histórica. Apesar de o π – a relação entre o perímetro de uma circunferência e seu diâmetro – ter sido bastante apreciado e calculado na Antiguidade, somente no século 18 provou-se que se tratava de um número irracional. Antes, várias aproximações foram realizadas, sendo que as mais exatas giravam em torno do número 3.

Perímetro da circunferência (Wikimedia/Commons)

Esses dias, naveguei pela página “Aproximações para π”, na Wikipedia, e percebi que havia uma nota dizendo que Maimônides – o físico e sábio judeu que viveu há 1000 anos – parecia ter feito uma alusão ao números irracionais em seus escritos. A fonte me levou ao livro “The Ancient Tradition of Geometric Problems”, utilizei o recurso de visualização da Amazon para acessar o conteúdo e assinalei uma suposta declaração ao comentário de Maimônides no Mishná, um conjunto de leis judaicas que integram o Talmude (quem quiser pesquisar melhor, confira os comentários em Eruvin 1:5).

Consegui localizar o trecho abaixo, cujo conteúdo é muito interessante (está em hebraico, e escrito em uma tipologia conhecida como Rashi script). Incluí por conta própria a livre-tradução, razoavelmente fiel, de alguns pontos de destaque:

Reprodução da revista Wired.com

A relação entre o perímetro de um diâmetro e o seu espaço não é conhecida. Não podemos precisá-la... Essa relação realmente não pode ser descoberta, a não ser pela aproximação... E podemos identificá-la na aproximação de um para três ou na sétima parte...”

Maimônides fala da aproximação para o π de 22/7, ou seja 3.14, que é uma boa aproximação. Além disso, ele chegou a deduzir que qualquer valor é necessariamente uma aproximação cuja precisão nunca poderia ser conhecida. Poderia-se dizer que essa evidência é real e que talvez esteja relacionada de alguma forma com a irracionalidade do π, poderia-se dizer também que isso não passa de considerações e que Maimônides simplesmente poderia ter pensando que o π era muito difícil de ser calculado. Além do mais, não há dúvida de que a tradução do hebraico (a partir do original em Árabe) para o inglês é ruim, o que gera maior confusão.

Por fim, essa é uma discussão intrigante e que nos deixa emocionados ao pensar que os sábios da Idade Média talvez já soubessem que o π só permitiria ser relativamente calculado.

Feliz Dia do Pi!

O autor agradece ao rabino Daniel Rockoff pela ajuda na tradução do texto. Quem se interessar pela tradução completa do trecho em hebraico, basta contatá-lo.

Fonte: Wired

quinta-feira, março 14, 2013

Para acabar com tudo, Operação Última Chamada


Autor: Anonymous

Membros do Anonymous em Los Angeles (Wikimedia/Commons)

Saudações Mundo,

Escrevemos hoje com a esperança de inspirar mudanças e progresso no Planeta.

Alguns acontecimentos recentes nos deixou ainda mais receosos em relação ao Mundo e têm nos levado ao mais profundo sentimento de injustiça. Os tempos modernos têm nos apresentado bastante sofrimento, aflição, dor, tristeza, remorso etc... Vemos amigos estressados em seus escritórios, sujeitos a perder seus empregos, sujeitos a instabilidade ante a manutenção da casa, do carro e da família inteira. Vemos o rico que não se importa, e o pobre que necessita de socorro. Vemos muitos sistemas judiciais ultrapassados sentenciando boas pessoas, e deixando os vagabundos livres, à vontade. Vemos governos que não podem funcionar, e pessoas sendo punidas por equívocos governamentais. Vemos diversas guerras inúteis sendo justificadas. Vemos matança, tortura, estupro, drogas, abuso, ódio, ameaça, crueldade, mentiras, segredos e mais uma infinidade de coisas que não deveriam existir...


Este Mundo é um grande negócio do mal, mas, antes de falar em qualquer mudança, devemos admitir em primeiro lugar que todos nós contribuímos para o problema. Enquanto humanos, de uma certa forma, é da nossa natureza gerar um impacto negativo em nosso meio ambiente. Por isso, quando olhamos para as grandes realizações do ser humano ao longo da nossa história, é frustrante enxergar o que temos hoje. É como se o avanço da civilização humana tivesse atingido um ponto gritante. Tecnologia, equipamentos, ciência etc... continuam evoluindo, mas a qual custo? No mundo de luxúria da vida moderna nós, contrariamente, impomos dor e sofrimento aquilo que não podemos ter. Pense nas coisas que você têm... É bem provável que o dinheiro foi um meio para adquirir essas coisas, mas o que as pessoas têm feito a fim de merecer esse dinheiro? O que os executivos têm feito? Você acredita que eles ganharam cada centavo honestamente? Ou o que eles fazem é sentar e encher os bolsos de dinheiro, espancando qualquer um que cruze o seu caminho? Em 2011, um executivo médio norte-americano “ganhou” mais de 11 milhões de dólares, algo aproximadamente 231 vezes maior que um trabalhador mediano. Em 1965, o raio de compensação Executivo-para-trabalhador era de aproximadamente ~20 para 1, em 1973 ~22 para 1, em 1978 ~29 para 1 e em 1989 ~59 para 1.

Uma diferença fundamental e que distingue essencialmente os seres humanos de outros primatas é a conectividade de nossos cérebros, mais predominantemente no que diz respeito ao córtex cerebral. Contudo, enquanto essas características estão restritas ao interior do cérebro, é no compartilhamento por meio de relações sociais e de comunicação que tal diferença se apresenta com força. Por outro lado, com o passar do tempo, o elo entre nós e outros primatas parece estar cada vez mais próximo. O que aconteceu aos seres superiores que olharam e cuidaram de todos os humanos e animais que habitavam esse planeta? Nós conseguiríamos levar nossas vidas sem depender dos outros? Ou, sem estar conectados à canais de comunicação, TV, e todo tipo de coisa que, seja lá o que for, a sociedade nos oferece e diz que devemos incorporá-la?

Se o resto da civilização cuidasse por um momento em tentar entender o Mundo da forma que nós (Anons) entendemos, talvez poderíamos realizar alguma mudança. Mudança que não seria fácil, apesar de que nós sempre estamos além da zona de conforto. O problema pode ser comparado ao computador infectado com um vírus. Se o vírus for identificado rápido, isso não representa qualquer problema. Mesmo que o sistema operacional esteja em situação quase irrecuperável, alguém sempre poderá reinstalá-lo. Contudo, se o computador é infectado por um vírus atrás do outro e não é reparado pode ocorrer sérios danos ao hardware. O problema também poderia ser comparado ao carro com vazamento no cabeçote. Mesmo que você pague caro para trocar a junta com um pequeno vazamento, isso não seria algo absurdo tendo em vista a necessidade do serviço. Por outro lado, se alguém continuasse a dirigir o carro com o óleo gotejante, mesmo depois de misturar o combustível e os fluídos, provavelmente o reparo seria muito mais caro, podendo levar o carro até à perda total.

Mas o que deveria ser feito diante os dilemas da humanidade? Ao que tudo indica a melhor aposta seria recomeçar o sistema, a exemplo da Grande Depressão. Isso poderia ser duro por um momento, assim como foi durante a Grande Depressão, mas pense nos ganhos que poderíamos obter. As pessoas se conscientizariam da importância da família e dos amigos, de que não precisam de todas as coisas que nós acostumamos ter. A imaginação das pessoas cresceria, e elas começariam a pensar mais em si mesmas. Homens se tornariam mais gentis e mulheres seriam mais delicadas. As dívidas acabariam, o sistema monetário seria reinventado. Governos seriam reformados para melhor atender suas populações. A lista é grande... Então, o que alguém pode fazer para recomeçar o sistema? A resposta reside nos motivos da Grande Depressão. Hoje, o mundo do dinheiro eletrônico pode ser algo maravilhoso. E o pânico dos investidores perdendo dinheiro o potencial caminho para a perfeição. Sacrifícios sempre foram necessários em prol de grandes realizações, mas se nós continuarmos investindo na mesma direção iremos sofrer o pior de todos os destinos, algo que nenhum de nós espera e que pode ser mudado agora. Sendo assim, o melhor caminho para mudança é um plano de ação, com ações boca-a-boca e algumas boas tags de códigos.

Quando analisamos o problema, as pessoas pesam os prós e contras e tentam buscar mais subsídios para a tomada de decisão. Quando examinamos todos os caminhos que levaram aos prejuízos, deveríamos nos esforçar para deixar os preconceitos de lado e tentar prever quais os caminhos seriam mais benéficos para o futuro deste Mundo. Em outras palavras, quando olhamos para o futuro deveríamos tentar determinar todos os benefícios e conseqüências para cada pessoa e quais as melhores rotas tomar.

Qualquer pessoa que observar uma colônia de formiga certamente vai dizer que aquilo não passa de uma imagem da civilização humana. É notável que ambos transitam pelos seus ambientes, completamente óbvio que residem longe dessas áreas, e que trabalham todos os dias até a hora de morrer. Ambos ocasionalmente saem de seus territórios e, se o fazem, visitam locais próximos e conhecidos. O observador também pode notar uma diferença entre homens e formigas. Quando acontece um distúrbio no formigueiro, as formigas correm, a exemplo dos homens quando estão no meio de um tumulto, exceto aquelas que agem de modo abnegado e direcionadas a fazer apenas o que beneficia o formigueiro como um todo. As combatentes defendem as demais, as trabalhadoras carregam os ovos da rainha e os enterram, outras protegem a rainha dentro do formigueiro, no caso de exposição. Isso não significa que as formigas possam encarar diretamente quem as persegue, significa apenas que elas vão morrer fazendo isso. É seu dever.

Por último, sabe-se que a data e os detalhes desta operação devem ser decididos por todos nós. Qualquer um é bem-vindo a ingressar nessa luta e, juntos, iremos despertar para um Mundo melhor!

Fonte: anonnews.org

quarta-feira, março 13, 2013

Escritores pedem aos seus líderes políticos que salvem a reforma da imprensa


Carta aberta de nomes como Stephen Fry diz que a votação do projeto de lei sobre calúnia e difamação corre o risco de ser abafada pelo falatório de Leveson

Autor: Lisa O'Carroll

Escritor britânico Stephen Fry (Wikimedia/Commons)

Alguns dos escritores mais famosos de língua inglesa, e que inclui nomes como Stephen Fry, Sir Tom Stoppard, William Boyd, Margaret Drabble, Ian McEwan e Sir Salman Rushdie, chamaram a atenção dos seus principais líderes políticos para a implementação da lei de calúnia e difamação após 170 anos de silêncio a cientistas, escritores, ativistas e jornalistas.

Em carta aberta a David Cameron, Nick Clegg e Ed Miliband, os escritores disseram estar “profundamente preocupados” com o fato de que, após três anos de discussões exaustivas no legislativo, o projeto de lei seja abafado, simplesmente porque o falatório político apresentado no mês passado pelo relatório Leveson causou polêmica no que diz respeito à regulamentação da imprensa.

Organizada por um grupo de escritores ligados à English Pen, a carta sugere: “é totalmente inapropriado, e temerário, que a reforma da imprensa seja sacrificada pela ineficiência política em curso”.

As leis de imprensa britânica atuais, argumentam os escritores, não sofrem mudanças substanciais desde 1843, o que rendeu a Londres o título de capital mundial da calúnia, o que não é “apenas uma vergonha para o país, mas um assunto de âmbito internacional”. Em 2010, o presidente Barack Obama, aprovou leis que protegem os cidadãos norte-americanos dos tribunais britânicos.

Julian Barnes, Claire Tomalin, Ali Smith, Dame Antonia Fraser, Sir David Hare, Susie Orbach e Michael Frayn, que também assinam a carta, estão de acordo que o aperfeiçoamento das leis de imprensa pode estar à beira do colapso em razão das emendas inseridas no projeto de lei, no mês passado, por Lord Puttnam, durante o encerramento da sessão na House of Lords (parlamento).

Há três anos em formatação, o projeto de lei foi incluído no discurso dos partidos Conservador, Trabalhista e Liberal Democrata. Até o mês passado, não se tocou em regulamentação da imprensa. Mas um grupo frustrado com a ineficiência do relatório Leveson entre os partidos políticos obteve vitória esmagadora no parlamento e adicionou cláusulas ao projeto de lei que podem encobertar as atividades investigativas dos jornais.

A escritora Gillian Slovo, filha do líder anti-apartheid Joe Slovo, contou ao The Guardian: “seria terrível se essa lei terminar abafada, o que não significa falta de apoio dos três partidos, por que eles estão apoiando, mas um prejuízo enorme causado pelas contradições do relatório Leveson. Seria uma grande perda”.

Ela disse que “uma das grandes forças da Inglaterra sempre foi a liberdade de expressão, mas as leis de imprensa se tornaram o calcanhar de Aquiles já que na maioria das vezes são utilizadas para silenciar os menos favorecidos”.

Defensores da Campanha para Reforma das Leis de Imprensa, que incluem o Lord Lester, acreditam ser possível salvá-la mas isso tem que cair no interesse público até o meio de março. Fontes políticas confirmam que não há crítica quanto à discussão, e que assim continuará enquanto Leveson não parar de falar e aumentar o receio de que o projeto de lei já esteja morto.

Boyd, vice-presidente da English Pen, disse que as emendas de Puttnam não tem “nada haver com o princípio das reformas, cuja validade já foi estabelecida” através de debates e consultas diretas em três comitês do parlamento.

As emendas de Puttnam incluem propostas para a criação de uma agência reguladora que seria responsável em resolver conflitos com jornais, além de um sistema de incentivos que leva a adesão obrigatória dos editores – sob o risco de encarar o órgão regulador de imprensa, medidas punitivas e custos de ações na alta corte.

Os escritores lembram que um número significativo de cientistas tiveram que lidar, nos últimos três anos, com “ações judiciais por calúnia simplesmente por denunciar práticas médicas perigosas”. Se o projeto de lei sobre calúnia e difamação virar lei, o risco de ações contra a imprensa cairia devido ao novo direito de defesa. Além disso, grandes corporações tais como as companhias de medicamentos teriam que provar sérios prejuízos financeiros antes de tomarem qualquer atitude.

“Se a lei não for reformulada, intimidações continuarão a reprimir a publicação de estórias de interesse público e, também, que abordam questões como saúde e segurança pública”, disse a carta.

Os demais assinantes do texto são Lisa Appignanesi, Jake Arnott, Amanda Craig, Victoria Glendinning, Mark Haddon, Ronald Harwood, Michael Holroyd, Howard Jacobson, Hisham Matar, Philippe Sands, Will Self, Kamila Shamsie e Raleigh Trevelyan.

O primeiro-ministro disse que apóia o projeto de lei apesar de se sentir intimidado diante as emendas propostas por Puttnam. “O governo está firmemente ao lado dos objetivos originais do projeto de lei. No entanto, o governo não pode apoiar as emendas de Puttnam e nem removê-las uma vez que isso não faz parte do nosso estatuto”, disse o porta-voz de David Cameron.

Já o porta-voz dos Trabalhistas disse: “Nosso partido está comprometido, através de esforços absolutos, com a modernização dessa ultrapassada lei de calúnia e difamação, nós formatamos um conjunto original de propostas que ainda não estão no ponto. Mesmo assim, seria uma ofensa para o governo prevenir o parlamento e dizer como eles devem trabalhar em relação as essas propostas que são muito necessárias para atualizar as nossas leis”.

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Íntegra carta aberta
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Estamos escrevendo essa carta como forma de cobrá-los o comprometimento com a reforma da imprensa e a garantia de que o projeto de lei sobre calúnia e difamação será aprovado.

Nossos três maiores partidos fizeram promessas em seus discursos e reafirmaram o compromisso com a reforma em concordância com a coalizão governista.

Estamos profundamente preocupados que o projeto de lei, que segue sob ameaça permanente, sofra a inclusão de uma nova cláusula apresentada recentemente no legislativo e que introduz elementos sugeridos pelo juiz Leveson. Inserir mais propostas de regulamentação da imprensa no projeto de lei sobre calúnia e difamação não é viável – conforme o próprio relatório Leveson observou, a imprensa não é de sua responsabilidade. Sendo assim, é totalmente inapropriado, e temerário, que a reforma da imprensa seja sacrificada pela ineficiência política em curso. O projeto pode significar uma oportunidade que não se deve desperdiçar.

Esse é um projeto popular que tem o suporte de cientistas, grupos de consumidores, juristas, especialistas, escritores, jornalistas e blogueiros – mais de 60 mil assinaturas foram recolhidas para a petição na Campanha pela Reforma das Leis de Imprensa. Esse raro consenso em toda a sociedade cresce a partir da consciência de que as leis de imprensa da Inglaterra e do País de Gales podem esfriar o discurso daqueles que têm coragem de falar sobre assuntos de interesse público.

Desde que a campanha pela reforma da imprensa começou há três anos, vocês devem estar cientes de casos como o dos cientistas que tiveram que encarar ações judiciais por calúnia simplesmente por denunciar práticas médicas perigosas, e dos jornalistas cujas investigações não puderam ser publicadas no Reino Unido por receio de ações nos tribunais, mediante cartas ameaçadoras de advogados reclamando a exposição de tais práticas ruins. Se a lei não for reformulada, intimidações continuarão a reprimir a publicação de estórias de interesse público e, também, que abordam questões como saúde e segurança pública.

Nossas leis de imprensa não são apenas uma vergonha para o país, mas um assunto de âmbito internacional. A comissão de direitos humanos da ONU referiu-se ao Reino Unido no que diz respeito ao impacto da imprensa na liberdade de expressão; os EUA mudaram a legislação para proteger seus cidadãos dos nossos tribunais de imprensa.

O projeto de lei sobre a calúnia e difamação promete colocar as nossas leis de acordo com o Século XXI, ao proporcionar proteção efetiva para a publicação online e permitir que as corporações parem com suas intimidações silenciosas, ao dar fim a uma reivindicação ridícula e insignificante e introduzir uma segurança de interesse público de longa data.

Esse é um momento histórico na liberdade de expressão neste país. Como escritores e membros do English Pen, pedimos-lhes que honrem as promessas e garantam que o projeto de lei seja completamente aprovado até o final da sessão do parlamento.

Lisa Appignanesi, Jake Arnott, Julian Barnes, William Boyd, Amanda Craig, Margaret Drabble, Antonia Fraser, Michael Frayn, Stephen Fry, Victoria Glendinning, Mark Haddon, David Hare, Ronald Harwood, Michael Holroyd, Howard Jacobson, Hisham Matar, Ian McEwan, Susie Orbach, Salman Rushdie, Philippe Sands, Will Self, Kamila Shamsie, Gillian Slovo, Ali Smith, Tom Stoppard, Claire Tomalin, Raleigh Trevelyan.

Fonte: The Guardian
Leia mais: Carta Capital

* Jornalistas brasileiros, guardadas as devidas proporções, é bom ficar de olho na PEC 37