segunda-feira, março 04, 2013

O ataque dos parasitas manipuladores de cérebros


Autor: Brandon Keim

Infectada, a Lagarta Soberana se dissolve

Até bem pouco tempo pensava-se que os parasitas levavam uma vida relativamente simples e resumida a passear pelo hospedeiro extraindo nutrientes e energia. E pronto. Porém, essa era apenas uma parte da história. Na atualidade, descobriu-se que alguns parasitas – visando atingir os próprios objetivos – assumem o controle total de seus hospedeiros, conduzindo-os a agir em diversos casos de maneira auto-destrutiva.

Tomem como exemplo o parasita da Lymantria dispar que induz a lagarta da mariposa-cigana subir até a copa das árvores e se instalar em alguns pontos dos galhos. No topo, quando não são comidas por pássaros, tais lagartas morrem e entram em decomposição – com a chuva, suas partículas são espalhadas pelas folhas. A partir daí uma nova geração de lagartas se alimenta da folhagem e, novamente, se infecta com o parasita.

“Pelo visto, as pessoas não se interessam por essas questões porque a todo instante nós temos exemplos ao nosso redor de controle no comportamento de doenças”, disse o bioquímico Kelli Hoover, da Universidade da Pensilvânia, que descreveu a sequência do gene da L. dispar em estudo publicado na revista Science, de 9 de setembro de 2011.

Formigas saúvas

Quando o nematelminto Myrmeconema neotropicum infecta as gigantes Cephalotes atracus, o abdômen dessas formigas incha e fica vermelho semelhante à uma amora ou framboesa. Isso acontece nas florestas da América Central e do Sul, e poderia se caracterizar apenas como um acontecimento natural se o lugar não fosse rico, também, em pássaros que adoram frutas vermelhas. Ou seja, uma péssima notícia para as formigas.

Ao se tornarem hospedeiras do parasita, as saúvas vagam pelas árvores inclinando o abdômen para o ar e emitindo vibrações. De tal modo, convida os pássaros à comê-las e, posteriormente, o M. neotropicum a se propagar goela abaixo nas aves.

Formigas zumbis

Quanto ao fungo Ophiocordyceps, este provoca um efeito químico comparado ao LSD em formigas trabalhadoras. Quando infectadas, as mesmas deixam os seus ninhos e procuram aleatoriamente uma folha com 10 polegadas. Ao encontrá-la, as formigas passam a se atacar apenas em um lado da folha. É quando morrem. Depois de um ano, o Ophiocordyceps consome o corpo das formigas e também os utiliza como fonte de alimentação e reprodução.

Steve Yanoviak (University of Arkansas at Little Rock)

Foto: Ophiocordyceps cresce na cabeça de uma formiga morta.

Louva-Deus suicida

Uma vez estabelecido dentro do louva-deus, o verme Spinochordodes tellinii produz químicas que afetam o sistema nervoso central do hospedeiro levando-o a mergulhar na água. É o salto mortal. Depois que o louva-deus pula na piscina, o verme deixa o seu corpo. Dentro da água, o S. Tellinii expelido pode completar seu ciclo de vida. O louva-deus, por sua vez, morre.

Teias para vespas

Vespas são famosas por botar seus ovos em insetos que vivem se alimentando de suas larvas devoradoras. Contudo, as Hymenoepimecis vão ainda mais longe: suas larvas, quando vão matar uma aranha, induzem a hospedeira a produzir um novo tipo de trama na teia. Em vez de confeccionar seu elegante esquema de círculos concêntricos, a aranha entrelaça uma estrutura capaz de suportar o casulo que será construído dentro de algumas horas. Ou melhor, depois que a larva matar e comer a aranha.

Peixe arriscado

Bastante encontrado em córregos e lagos da América do Norte, o Clinostomum marginatum – também conhecido como o verme amarelo – põe seus ovos dentro de pássaros que se alimentam de peixes. Primeiramente, ovos são depositados na água, via fezes. Em seguida, são ingeridos pelos peixes – onde os parasitas se desenvolvem. Quando os vermes habitam o hospedeiro o suficiente, eles fazem com que o peixe alcance diretamente a superfície. Lá, onde se torna muito mais fácil de ser consumido, o peixe (influenciado pelo C. marginatum) dá continuidade ao ciclo.

Gatos que amam ratos

Exemplo raro em mamíferos envolvendo parasitas que controlam hospedeiros, o Toxoplasma gondii é um protozoário que pode viver em qualquer animal de sangue quente, mas que só se reproduz em gatos. Nos ratos, o T. gondii provoca não só a perda dos instintos de medo pelos gatos, como desenvolve também o desejo sexual dos roedores pelos felinos.

Existe a suspeita de que o T. gondii, que altera o comportamento do hospedeiro através da produção de dopamina nos neurotransmissores, está atingindo os seres humanos. Inclusive, cerca de um terço da população mundial pode estar infectada. De acordo com pesquisas, isso poderia aumentar o risco das pessoas desenvolverem doenças como: distúrbios obsessivo-compulsivos e esquizofrenia.

Porém, ainda não foram realizados estudos indicando como as pessoas infectadas por T. gondii respondem a animais como os gatos, por exemplo.

Fonte: Wired.com

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