Autor: Brandon Keim
Infectada,
a Lagarta Soberana se dissolve
Até bem
pouco tempo pensava-se que os parasitas levavam uma vida
relativamente simples e resumida a passear pelo hospedeiro extraindo
nutrientes e energia. E pronto. Porém, essa era apenas uma parte da
história. Na atualidade, descobriu-se que alguns parasitas –
visando atingir os próprios objetivos – assumem o controle total
de seus hospedeiros, conduzindo-os a agir em diversos casos de
maneira auto-destrutiva.
Tomem
como exemplo o parasita da Lymantria dispar que induz a
lagarta da mariposa-cigana subir até a copa das árvores e se
instalar em alguns pontos dos galhos. No topo, quando não são
comidas por pássaros, tais lagartas morrem e entram em decomposição – com a chuva, suas partículas são
espalhadas pelas folhas. A partir daí uma nova geração de lagartas
se alimenta da folhagem e, novamente, se infecta com o parasita.
“Pelo
visto, as pessoas não se interessam por essas questões porque a
todo instante nós temos exemplos ao nosso redor de controle no
comportamento de doenças”, disse o bioquímico Kelli Hoover, da
Universidade da Pensilvânia, que descreveu a sequência do gene da
L. dispar em estudo publicado na revista Science, de 9 de
setembro de 2011.
Formigas
saúvas
Quando o
nematelminto Myrmeconema neotropicum infecta as gigantes
Cephalotes atracus, o abdômen dessas formigas incha e fica
vermelho semelhante à uma amora ou framboesa. Isso acontece nas
florestas da América Central e do Sul, e poderia se caracterizar
apenas como um acontecimento natural se o lugar não fosse rico,
também, em pássaros que adoram frutas vermelhas. Ou seja, uma
péssima notícia para as formigas.
Ao se
tornarem hospedeiras do parasita, as saúvas vagam pelas árvores
inclinando o abdômen para o ar e emitindo vibrações. De tal modo,
convida os pássaros à comê-las e, posteriormente, o M.
neotropicum a se propagar goela abaixo nas aves.
Formigas
zumbis
Quanto ao
fungo Ophiocordyceps, este provoca um efeito químico
comparado ao LSD em formigas trabalhadoras. Quando infectadas, as
mesmas deixam os seus ninhos e procuram aleatoriamente uma folha com
10 polegadas. Ao encontrá-la, as formigas passam a se atacar apenas
em um lado da folha. É quando morrem. Depois de um ano, o
Ophiocordyceps consome o corpo das formigas e também os
utiliza como fonte de alimentação e reprodução.
Steve Yanoviak (University of Arkansas at Little Rock)
Foto:
Ophiocordyceps cresce na
cabeça de uma formiga morta.
Louva-Deus suicida
Uma
vez estabelecido dentro do louva-deus, o verme Spinochordodes
tellinii produz químicas que
afetam o sistema nervoso central do hospedeiro levando-o a mergulhar
na água. É o salto mortal. Depois que o louva-deus pula na piscina, o verme deixa o seu corpo. Dentro da água, o S. Tellinii expelido pode completar seu ciclo de vida. O louva-deus, por sua
vez, morre.
Teias para vespas
Vespas
são famosas por botar seus ovos em insetos que vivem se alimentando
de suas larvas devoradoras. Contudo, as Hymenoepimecis
vão ainda mais longe: suas larvas, quando vão matar uma aranha,
induzem a hospedeira a produzir um novo tipo de trama na teia. Em vez
de confeccionar seu elegante esquema de círculos concêntricos, a
aranha entrelaça uma estrutura capaz de suportar o casulo que será
construído dentro de algumas horas. Ou melhor, depois que a larva
matar e comer a aranha.
Peixe arriscado
Bastante
encontrado em córregos e lagos da América do Norte, o Clinostomum
marginatum – também conhecido
como o verme amarelo – põe seus ovos dentro de pássaros que se
alimentam de peixes. Primeiramente, ovos são depositados na água,
via fezes. Em seguida, são ingeridos pelos peixes – onde os
parasitas se desenvolvem. Quando os vermes habitam o hospedeiro o
suficiente, eles fazem com que o peixe alcance diretamente a
superfície. Lá, onde se torna muito mais fácil de ser consumido, o
peixe (influenciado pelo C. marginatum)
dá continuidade ao ciclo.
Gatos que amam ratos
Exemplo
raro em mamíferos envolvendo parasitas que controlam hospedeiros, o
Toxoplasma gondii é
um protozoário que pode viver em qualquer animal de sangue quente,
mas que só se reproduz em gatos. Nos ratos, o T. gondii
provoca não só a perda dos instintos de medo pelos gatos, como
desenvolve também o desejo sexual dos roedores pelos felinos.
Existe
a suspeita de que o T. gondii,
que altera o comportamento do hospedeiro através da produção de
dopamina nos neurotransmissores, está atingindo os seres humanos.
Inclusive, cerca de um terço da população mundial pode estar
infectada. De acordo com pesquisas, isso poderia aumentar o risco das
pessoas desenvolverem doenças como: distúrbios
obsessivo-compulsivos e esquizofrenia.
Porém,
ainda não foram realizados estudos indicando como as pessoas
infectadas por T. gondii
respondem a animais como os gatos, por exemplo.
Fonte: Wired.com
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